[ bright light ]

é tarde. o prédio em silêncio de luzes e sons já pouco tem para dar. entra sem fazer barulho, ainda que a espere uma casa vazia. atira a mala e o casaco para cima da cama. agarra no caderno que tem em cima da mesinha de cabeceira. senta-se no chão e escreve

apetecia-me um beijo. apetecia-me olhar-te nos olhos que sorriem sempre tanto. apetecia-me olhar-te nos olhos, aproximar-me de ti devagarinho, sentir-te aproximar de mim também. e beijar-te. devagar. suavemente. os meus lábios perdidos nos teus. as tuas mãos pelo meu pescoço, pelo meu cabelo, por mim. doce. um beijo doce. apetecia-me perder a noção do tempo no tempo dos teus beijos. sentir-te a boca tranquila, urgente. sentir-te a língua segura, sincopada. apetecia-me desmaterializar-me aqui. nos teus beijos. num beijo tu. nós. o primeiro. de tantos. num tempo de beijos e sorrisos e palavras ditas devagar. num tempo de sintonias e de compassos. num tempo sem guerras, sem lapsos, sem medos, sem fúrias. num tempo nosso. a começar. e depois sentir-te a língua que procura a minha e a abraça. sentir-te a língua que me arrefece os lábios. sentir-te a respiração cortada, suspensa, e depois largada como num suspiro. sentir-te morder-me o lábio e dares-me mais um beijo quente. um beijo urgente. com todo o tempo que falta. com todo o tempo que temos. para beijos, palavras, sorrisos e silêncios. para o que é e para o que pode ser. apetecia-me o toque sublime das portas entreabertas, porém quietas. das portas que abrimos devagar para não acordar fantasmas de que não precisamos aqui. apetecia-me dizer que te quero os beijos, as palavras, os sorrisos e os silêncios. que te quero inteiro, com o passado que trazes, com as feridas saradas e as outras ainda por lamber. que te quero por seres tu, com tudo o que te constrói. e apetecia-me beijar-te devagar. sentir-me perder-me na amplitude dos teus beijos. sentir-me encontrar tudo o que trazes escondido e me faz sorrir. hoje era um dia bom para nos silenciarmos com beijos no entremeio dos sorrisos. para nos encantarmos e deixarmos que o desconhecido aconteça...

1 comentários:

Maluma 05 junho, 2006 09:02  

Dizem que as palavras são como as cerejas... e eu acho que os sentimentos - ou mais especificamente as sensações - também... e ao longo deste teu blog, isso é perceptível! este post é simplesmente fantástico... pela sequência das palavras... pela verdade que transmite, apesar da ficção! pelo fogo de lembranças que acende!

Não resisti, mais uma vez, comentar!
:)
beijinho e obrigado