[ uncertainty ]

a certeza com que me falavas de incertezas encostava-me às cordas e calava qualquer argumento que tivesse pronto para ti. as improbabilidades eram cartas com que gostavas de jogar. aprendeste a mestria da dissolução. deixaste de te concretizar e passaste a ser uma mera hipótese como, aliás, era a tua vida para ti.
nunca me davas certeza nenhuma. um simples convite para jantar era remetido para a categoria do "logo se vê" e resolvido o seu enigma o mais em cima da hora possível. isso deixava-me um espectro de opções enorme, porém absolutamente dependente de ti, dos teus desejos e das tuas vontades. para mim, 24 horas é longo prazo e eu nunca planeio nada a longo prazo, dizias, aniquilando assim qualquer hipótese de entrosamento.
depois, quando aprendi a jogar este jogo, passei a não viver de expectativas. ligava-te às 21h a perguntar se querias jantar comigo. um sim ou um não eram ambos aceitáveis. deixei de me preocupar e o futuro passou a ter a distância máxima de duas horas à minha frente. nem mais, nem menos. aliviei a pressão sobre ti quando percebi que te agradavam as incertezas. então tornei-me eu próprio uma incerteza na tua vida. deixaste de saber se eu ia ligar, quando ias ver-me, quando ia convidar-te para o que quer que fosse. acabaram os contactos doseados a conta-gotas. a ambiguidade de não se saber com demasiada antecedência o que vai acontecer é boa. mas a palavra compromisso é tão válida como qualquer outra e por vezes é necessária. e agora estamos os dois vazios porém carregados de possibilidades. eu não sou mais feliz assim. e tu?

1 comentários:

sahara 05 outubro, 2005 16:08  

logo se vê...

(também não gosto de incertezas)

beijo*