[ cornucópia ]

enrolo-me em palavras. elas adensam-se à minha volta como nuvens carregadas. subtraem-me a mim. se eu não responder, não perguntes outra vez. é porque o silêncio é um mar onde consigo nadar sem pé. se te disserem que fugi, desconfia. eu não sei de mim, nem saberia por onde fugir. sou uma estranha no corpo que tenho. não me sinto em casa. sinto-me vaga. vagamente à procura de mim.

supõe que te procuro. supõe que quero saber de ti. que, ao contrário do que julgas, esta distância também me agonia e não é nada disto que quero. supõe que entendo onde errei mas custa-me ainda ver como posso corrigir o erro. supõe que quero abraçar-ter devagar e sussurrar-te ao ouvido que estou aqui, que está tudo bem. ainda posso?

tudo tão longe. a névoa cresce, engrossa, engole-me. se esticar a mão, deixo de ver as pontas dos dedos. como queres que te veja se te sinto ausente? como queres que te sinta se não me agarras, se esperas que seja eu a deduzir-te as vontades, se achas que me bastam as tuas suposições vãs?

1 comentários:

sahara 27 fevereiro, 2007 01:08  

gosto mesmo quando aqui escreves.

beijos *