[ carta de dizer adeus ]

minha querida, agora sim, sinto que te perdi.

leio-te o olhar. os olhos baços dizem-me do vazio que tens aí dentro. dizem-me que sabes que me perdeste. esta é uma carta de dizer adeus. o fechar dos braços quando se acaba o abraço. o fechar da boca quando as palavras se esgotam. o fechar das mãos quando o vazio chega. esta é a carta que não quis escreve-te, meu amor.

amo-te ainda como sempre te amei. não escolhi amar-te. mas, se pudesse, tê-lo-ia escolhido. apesar da dor, apesar da raiva, apesar das noites que ficaram por adormecer. o teu cheiro na minha pele é uma recordação demasiado preciosa, sabes? o sabor da tua saliva, a força dos teus dedos na ascensão das minhas pernas. tudo em ti são doces recordações. onde é que se guardam estas coisas que duram para sempre? como é que se faz a pedaços mortos da nossa vida, que não queremos enterrar? não se podem cremar as recordações, fazer-lhes uma cerimónia simples e atirá-las ao mar. é pena. seguro, portanto, tudo o que tenho dentro de mim. ofereço-te tudo o que fui, tudo o que sou. sempre tua, era como assinava os recados que te deixava no carro, quando te ia buscar ao trabalho, naquelas noites quentes de verão. quando vivíamos sem o peso das balanças desequilibradas. quando eu era eu e te amava sem te exigir nada em troca.

hoje digo-te adeus. não porque queira, efectivamente, dizer-te adeus. mas porque preciso de te libertar para me reencontrar a mim. porque preciso de deixar que sigas o teu caminho, seja lá onde ele te leve. adeus é uma palavra breve com o peso de uma montanha. adeus é a purga que te faço, para que nos libertemos os dois. adeus é a ausência de mim em tudo o que de mim levas, em tudo o que te dou. digo-te adeus e, no fundo, vou contigo onde quer que vás. porque amor que se escreve assim, a-m-o-r, é vento que percorre quilómetros e te encontra sempre na esquina. é segredo que não se conta e que te sussurra que está tudo bem. amor que se ama como eu te amo é palavra para toda a vida. é a vida toda numa palavra. amor.

4 comentários:

[ momentos ] 06 março, 2007 11:39  

hoje, digo-te olá!

encontrei-t. beijo.

sophiarui 07 março, 2007 17:55  

:)

um abraço linda

Filipa 16 março, 2007 15:15  

..e é isto o coração cheio e os braços vazios...
Vai ser bom te reencontrares de novo. Beijo grande.

c.bruno 25 março, 2007 04:39  

Adeus é simplesmente difícil. Mas, por vezes, é necessário. *