[ sumário ]

olhei a carta pousada em cima da mesa. um envelope de papel pardo, rústico. o meu nome escrito a preto. apenas o meu primeiro nome. o envelope por fechar, a badana a servir de tripé para suster o envelope meio em pé. não cheira a nada. nem ao teu perfume, nem a papel novo. nada.

abro o envelope e retiro uma folha meticulosamente dobrada em três. papel idêntico ao do envelope, que tu és pessoa de pormenores. de novo, um papel sem cheiro, descaracterizado, abandonado, vago. nada disto parece teu. contudo, és tu em cada pedaço de papel, em cada gesto encarcerado por detrás desta carta.

a meio, uma palavra apenas.

sim?

não sei que resposta esperas. não sei que pergunta me fazes, nem se queres mesmo que te responda. sei que tudo isto és tu. uma palavra perdida no meio de uma folha, uma ausência quase cruel. e, ainda assim, a certeza de que estás, de que procuras, de que jogas.

dobro a folha novamente, deixando o verso para dentro. escrevo. devolvo duas palavras ao interior do envelope, fecho-o, anulo o meu nome com um risco seguro e escrevo por baixo o teu. pouso o envelope. e saio desta casa sem planos de regresso. ainda que logo à noite possa bater-te à porta e sentar-me contigo a beber mais uma das nossas margueritas.

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